sábado, 23 de outubro de 2010

Referência para a performance Fragmentos e Reflexos - Apresentada no domingo dia 21 de novembro, 16h, Recanto Europeu, Parque da Redenção.

Henri-Pierre Jeudy, no livro O corpo como objeto de arte, 2002, levanta questões sobre a realização de performances contemporâneas e diz que a utilização do corpo na expressão artística parece, segundo as histórias da arte, ter como origem as maneiras pelas quais os homens das sociedades tribais utilizavam seu próprio corpo para nele escrever sinais. Isso, na visão do autor, permite afirmar que certas performances atuais retomam igualmente, ou em boa parte, as tradições tribais/primitivas. Para Jeudy, fazer arte é redescobrir o corpo. A busca em redescobrir o poder de um corpo originário serviu em grande parte para definir uma função social e cultural da criação artística. Para ele, o corpo escrito, o corpo pintado com hieroglifos não é somente um objeto estético em si, torna-se sujeito de uma transmissão cultural que tem o poder de transformar em objetos aqueles que realizam essa escrita. Assim, não se sabe porque as pinturas corporais responderiam a uma função coletiva nas sociedades tribais/primitivas e a uma função de individualização nas sociedades ocidentais, como a tatuagem ou a maquiagem. Ao contrário, a complexidade da pintura sobre a pele liga-se ao fato de que ela traduz simultâneamente uma expressão coletiva e individual. As modalidades simbólicas não são as mesmas, mas essa confusão entre individual e coletivo persiste, como se a própria pele fosse lugar da manifestação coletiva daquilo que é justamente pessoal. Entre os Papuas da Nova Guiné, as pinturas corporais são excepcionais, sendo praticadas em rituais, ao passo que a maquiagem, nas sociedades ocidentais é permanente. A pele, como um relato infinito, desvela e oculta a intimidade de nosso corpo, cujo sentido público jamais é totalmente objetivável.

Por Lara Sosa

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